domingo, janeiro 29, 2006

Xiconhoca rica na costa

A cidade de S. José apesar de não ser arquitectonicamente nada de especial, tem alguns pontos de interesse, como algumas livrarias com livros de autores latino americanos em 2ª mão, cinemas, uma casa de teatro, o mercado artesanal, o jardim zoológico, uma série de parques (que são a casa de muitos mendigos) e alguns museus (museu das borboletas, arte contemporânea, etc), dos quais visitei o museu nacional. Contudo, acabei por não ter tempo para ver tudo, pois entrei já um pouco perto da hora de encerramento (mal pensado!). Por isso gostava de lá voltar para apreciar com mais calma a vista espectacular que este proporciona, ver a colecção de borboletas que eles lá têm e acabar de ler a história da Costa Rica…quando me mandaram embora estava na parte que explicava a constituição étnica deste povo e realmente a explicação que ali se apresentava veio esclarecer-me quanto à diversidade de fisionomias e cores que por aqui se vêem. No outro dia passei por uma casa onde na respectiva garagem estava a haver uma festa de aniversário de chineses que cantavam o “parabéns a você” num espanhol perfeito…para mim foi um dado novo!

Com 4 milhões de habitantes, o povo da Costa Rica é constituído maioritariamente por mestiços que provêm da coexistência de indígenas (índios), colonos espanhóis, negros provenientes maioritariamente da Jamaica, imigrantes gringos (E.U.A.), chineses e europeus (maioritariamente italianos e alemães). A população indígena representa 1% da população total, a mesma percentagem que a de imigrantes chineses! A população negra, por sua vez, concentra-se na costa caribeana e representa cerca de 3% da população. Aí falam “patuá” que, segundo me disseram, é uma mistura de espanhol com inglês e dialecto…estou curiosa! Segundo esta área da Costa Rica tem sido historicamente marginalizada ao longo dos vários governos. Para variar, a Costa Ricences (não sei se termina em “cence” ou “quenhos”) negros não era, até 1948, permitida a entrada no Vale Central (área onde hoje se insere S. José e outras cidades perto desta)...

Bom, depois de visitar a cidade de S. José algumas vezes resolvi, já que não tinha nada para fazer a não ser passear (que chatice!), viajar um pouco. Na 4ª feira da semana passada meti-me num bus para Monteverde, que fica a Noroeste de S. José. O principal interesse desta vila minorca é que se situa na base de uma reserva: “Reserva Biológica Bosque Nuboso Monteverde”. Creio que em português se pode dizer que é uma reserva de floresta tropical nebulosa. Nebulosa porque localiza-se numa zona bastante acima do nível do mar, portanto caracteriza-se por chuva abundante e uma temperatura que não condiz muito com o nome tropical…brzzzz....sim, casaquito de malha polar soube muito bem!

Levei cerca de 5 horas para lá chegar…não fica assim tão longe de S. José, mas o problema é que os autocarros não param só nas estações, vão parando ao longo do caminho para apanhar as pessoas…hehehe…além disso, por força da população que vive à custa do eco-turismo de Monteverde, mais de metade da estrada não é alcatroada…o alcatrão constitui um risco para a sobrepopulação desta vila e o consequente desequilíbrio da reserva…mas faz-se bem, a paisagem é lindíssima e com musiquita no ouvido, perfeito.

Visitei a tal reserva. Por um lado tive sorte pois no período em que lá fui não estava a chover, o que é sempre mais agradável, mas por outro tive muito azar porque estava muito vento logo não havia aves para ninguém! Pena pois é uma das principais atracções! Apenas vi o famoso “hummingbird”, que eram uma praga, em diversas cores e tamanhos (é a única espécie que consegue manter-se no ar sem deslocar-se devido à elevada capacidade de batimentos por segundo das asas que tem). Vi algumas orquídeas, uma tarântula gigante (horrorosa, preferia não ter visto! Hugh!) um macaco barulhento, um preguiçoso, e ouvi diversas explicações interessantes sobre o ecossistema. É um lugar muito bonito e novo para mim, até então só conhecia a savanita…hehe…

Além da visita à reserva havia uma série de outras coisas para fazer, só relacionadas com a própria reserva, un montón, proporcionado por diversas empresas: visitas diurnas ou nocturas gerais ou orientadas para as aves ou para os répteis…sei lá….hiking and trekking com guia, passeios de cavalo, bungee jumping, canopy tours, rappel. Fora da reserva: visita às cataratas…variados cursos de conservação da natureza, línguas, yoga, cerâmica, trabalho em madeira…museos: ranário, insectário, orquideário, mariposário (borboletas), fábrica do queijo e fábrica do café.

Bem, por onde começar? Primeiro preços…então além da reserva fui à fábrica do queijo e foi super interessante! À fábrica do café não deu porque no dia em que eu podia não havia o nº mínimo de pessoas para a visita…snif, snif, muita pena! Aos museus não fui porque há um montão do género em todo o país e bem mais baratos!

A vantagem de ter o Lonely Planet é que, entre outras coisas, vou comparando os preços e fazendo as minhas opções. São livros caros mas valem a pena, obrigada mana! Aqui todo bom turistinha anda com um na mão! Até os donos dos albergues têm! O Lonely Planet aqui é muito importante porque este país vive do turismo, então se o teu hotel aparece nesse livro é uma vantagem competitiva muito grande para ti. E porquê esta editora? Porque “Lonely Planet books provide independent advice…does not accept advertising in guidebooks, nor do we accept payment in exchange for listing or endorsing any place or business. Lonely Planet writers do not accept discount or payments in exchange for positive coverage of any sort.” Então todos os turistas o querem…o livro é tão comum que resolvi cobrir a capa do meu com papel de jornal para não me toparem. Sim, porque aqui se vêem que és de fora toca a vender! Mal as portas do bus abriram, já tinha não sei quantas vozes vindas de fora a perguntar-me se já tinha lugar para ficar…disse que sim, em casa da minha tia. Calculo que deva de haver por aí lugares menos turísticos, mas estando só e não conhecendo ticos ainda, não tive grande escolha…

Fiquei num albergue recomendado pelo L.P.…e resultou, camita confortável, wc partilhada, banho frio e muita simpatia por 5€ por noite. Comida: sandes com ingredientes proporcionados pelo supermarket, excepto 1 jantar, em que me dei ao luxo de pagar 2000 colones (4€) por um casado e una cerveza. O casado é um prato típico que como base contem sempre arroz e feijão. O que eu comi era um casado vegetariano, um prato super colorido com arroz branco soltinho, um pouco de refogado de feijão, um pouco de tomate fresco, abacate em fatias, palmito, milho…tudo assim separadito, maravilhoso! A repetir! Senti vontade de tirar uma foto mas estando sozinha não tive coragem…as mesas estavam todas chegas umas às outras, epa sentia-me ridícula…estupidez eu sei…mas aqui tudo é motivo para meter conversa e apetecia-me estar calada a comer descansada…

Regressando à fábrica do queijo. Aí tive a oportunidade de além de ficar a perceber o processo de fabrico de queijo, que é bastante simples, conhecer a história de Monteverde. E começa assim: 4 farmers gringos de Alabama, que haviam sido presos em 1949 por recusarem alistar-se no exército dos E.U.A., resolveram, após a sua libertação, emigrar em busca de uma vida mais pacífica. Assim, partiram em busca de terra no Canadá e na América Central, acabando por se estabelecer em Monteverde devido à sua terra fértil e clima propício para o desenvolvimento das suas actividades e pelo facto da Costa Rica ser um país que na altura já havia abolido o exército, o que ia de encontro com a pacificidade que procuravam. A estes farmers juntaram-se, em 1951, outros, fazendo um total de 11 famílias. Algumas destas famílias vieram de Alabama até Monteverde em carrinhas. Uma viagem que durou cerca de 3 meses cuja maioria do tempo foi a desbravar caminho/ tornar os caminhos acessíveis à sua passagem.

Os farmers compraram cerca de 15000 hectares de terra e com o objectivo de conservar o microclima que a floresta proporcionava ao local, benéfico para as suas actividades, acordaram em preservar cerca de 1/3 dessa propriedade. Creio que isto demonstra uma grande sensibilidade ecologica...

Posteriormente, juntando forças de ONGA’s, como por exemplo a WWF, conseguiram comprar mais terreno adjacente e formar a Reserva de Monteverde que eu visitei. Hoje em dia, com a ajuda de projectos privados de iniciativa por parte de cidadãos locais e de doações do público que visita a reserva, esta tem aumentando a sua extensão.

Com o terreno restante iniciaram então a produção de queijo (10 kg por dia) que perdura até hoje (1000 kg por dia), sendo o queijo e outros produtos lacticínios (como o gelado, que por sinal é muito bom!) vendidos em toda a Costa Rica e exportado para outros países da América Central e Sul. Os queijos que eles produzem são do tipo básicos como mozarela, parmesão, queijo fresco. Mas são estes que no final de contas se vendem mais. E aparentemente a indústria deles é bastante conceituada em toda a América Central.

Mas para mim o mais interessante foi saber que eles aproveitam o líquido que resulta da pasteurização do leite (um dos primeiros procedimentos para a produção de queijo), que é supostamente uma água suja, para alimentar porcos. Como tal, além de leite também têm uma indústria de carne vermelha. E mais, eles têm uma lagoa de tratamento das águas residuais própria!

Portanto como podem imaginar, Monteverde é uma vilazinha com uma influência gringa bastante forte. Mas pelo que deu para perceber vive-se em harmonia pois os gringos trouxeram muita coisa boa para os habitantes de uma vila muito próxima – Sta. Helena – já estabelecida antes da chegada destes. E é muito interessante observar como a existência da reserva naquela zona, a sua principal atracção turística, obriga a que todos que ali têm negócio desejem e contribuam para a sua preservação. Um exemplo a seguir sem dúvida, bastante inteligentes os gringos…

Na 6ª segui para uma outra vila, La Fortuna, cuja atracção principal é um vulcão ainda activo, o vulcão Arenal. No albergue em que fiquei estava também um grupo de Israelitas, 4 casais…dois dos quais estavam em lua-de-mel há 5 meses, andavam a viajar pela América Central com o dinheiro que os convidados do casamento ofereceram…maravilha, não?

Apesar do vulcão ser a principal atracção nem sempre se tem a sorte de o ver em actividade devido às nuvens que se formam sobre o seu cone. De noite, quando a lava contrasta com a escuridão, é quando o cenário costuma ser mais interessante. Mas não tivemos essa sorte. O dono do albergue, o Carlos, um porreiro sempre super bem disposto e brincalhão, ao qual às tantas já o chamávamos de Mr. Lava Lava ou Mr. Nada Nada (por não termos visto lava nenhuma) levou-nos duas noites seguidas a um “point “ supostamente ideal para ver o vulcão....mas nada nada! As nuvens não se iam embora…mas as cascatas, que obrigam a uma caminhada bastante puxada para alcançá-las e os passeios numa bicicleta alugada compensaram a estadia em grande! No caminho para as cascatas vi um bicho muito estranho mas não tão raro assim…um homem a masturbar-se…como o caminho era bastante deserto de casas e pessoas acelerei o passo e meti conversa com um cota americano que ia a uns 500 mts mais à frente. No fim ofereceu-me boleia no seu taxi, simpatico...

No domingo regressei a S. José. Fui num autocarro que concerteza foi desenhado para pessoas minúsculas! Os espaços entre assentos eram super apertados, os meus joelhos não tinham como não estar esborrachados no assento da frente…muito mal…

Entretanto no fim-de-semana chegaram finalmente os outros voluntários! Então 3ª, antigos voluntários, voluntários novos, e Costa Ricencences que vão fazer voluntariado na Europa este ano, partimos todos para um acampamento organizado pela ACI (Associação de Intercâmbio da Costa Rica), a minha organização de recepção daqui, com o objectivo de nos conhecermos todos e partilharmos experiências. Estivemos até 5ª numa praia…e foi muito bom…já me sinto menos só e mais bronzeada…hehe. Aí encontrei muita gente porreira, geraram-se conversas interessantes, muita animação e algumas dicas de salsa e cumbia.

Ontém, já em S. José outra vez, fui sair com Ticos e voluntários europeus que aí conheci. Uma espécie de visita guiada à vida nocturna de S. José. Fomos a um mini-concerto de guitarra classica num lugar muito bonito que se parecia imenso com a “Casa do Algarve” do Rossio, assim muito arabico...

Sábado deixei-me ficar em casa, entre o computador, a televisão e a geleira…o Pablo não para de jogar vídeo game! Se ao menos ele desligasse o som! Plim, plum, grzzzzzzz, ahahaha, chzrr, yeah yeah, pum pum, toda a tarde!

Segunda finalmente começam as aulas de espanhol…até lá, computador, televisão e geleira…e talvez uma peça de teatro...

Bjão gd!!!!